Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 1 de 6
"The End of the Line". Gravura em metal para a série "Expired Futures". Image Cortesia de Vinicius Libardoni

Pelos mais variados motivos, arquitetos são conduzidos para longe da prática profissional. Às vezes, no entanto, seguem projetando edifícios em outros meios e suportes. Vinicius Libardoni é um arquiteto e artista ítalo-brasileiro que migrou do Autocad para a gravura em metal, com passagem pela xilogravura, e vem construindo arquiteturas imaginárias desde então.

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 2 de 6Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 3 de 6Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 4 de 6Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 5 de 6Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Mais Imagens+ 1

Expired Futures (Futuros Expirados, em tradução livre) é uma serie de seis gravuras realizadas em metal, resultado de sua dissertação de mestrado na Academia de Arte e Design Eugeniusz Geppert em Wrocław, Polônia. Explorando imprecisões temporais, as obras são retratos de um passado no tempo presente sem possibilidade de futuro. Os edifícios representados na série de gravuras são ruínas em construção, arquiteturas que evocam um forte sentimento de nostalgia – uma nostalgia coletiva comum aos países da Europa Oriental.

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 3 de 6
"Derelict". Gravura em metal para a série "Expired Futures". Image Cortesia de Vinicius Libardoni

The End of the Line representa a Estação Ferroviária de Nadodrze, construída em 1868 e projetada pelo arquiteto alemão Hermann Grapow; Four Walls apresenta um edifício residencial do século XIX localizado na Ilha do Malte; Derelict nos mostra o Moinho Sułkowice erguido em 1890; Dissolving Boundaries é a representação do auditório do Departamento de Química projetado por Krystyna Barska e Marian Barski em 1964; Out of Context mostra o edifício Solpol, de 1993, uma joia do pós-modernismo polonês; e Deadly Repetition representa a paisagem monótona e repetitiva dos bloco residenciais da era comunista, sem fazer referência a nenhum edifício em particular.

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 4 de 6
"Four Walls". Gravura em metal para a série "Expired Futures". Image Cortesia de Vinicius Libardoni

O fio que alinhava estas arquiteturas é conduzido pelo caminhar do artista neste território que lhe é estrangeiro, e que pouco a pouco acaba se tornando sua casa. Esta instigante coleção particular da arquitetura de Wrocław, inventariada pelo artista a partir da prática da deriva situacionista, é um recorte privado tornado público por meio de releitura e representação através da gravura em metal. 

As impressões despertam certo estranhamento. Sólidas ruínas de tijolo e concreto apoiadas em estruturas independentes que se esforçam por mantê-las erguidas – perenes no tempo, refutando a todo custo a ideia de que o futuro lhes é inalcançável. O artista-arquiteto projeta elementos de sustentação na esperança de manter de pé seus edifícios contenedores de memórias. Mas os projeta sem muita convicção: o material usado é a madeira, imageticamente mais leve e frágil que o concreto e a alvenaria, e as peças de sustentação têm seções visivelmente insuficientes para suportar por muito tempo todo o peso daquelas arquiteturas sentimentais. 

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 2 de 6
"Dissolving Boundaries". Gravura em metal para a série "Expired Futures". Image Cortesia de Vinicius Libardoni

À atmosfera austera e serena das gravuras é somada, assim, uma camada de fantasia e irracionalidade. Corrobora essa sensação a decisão do artista por, deliberadamente, suprimir céu, horizonte e, mais notoriamente, a terra. Todas as seis gravuras maiores mostram arquiteturas total ou parcialmente suspensas, sem chão, desprendidas de solo firme. Existe aqui uma inversão fundamental da tectônica telúrica praticada desde a antiguidade, em que a arquitetura literalmente se apoia na terra; nessas gravuras, imensos edifícios são colocados num estado de suspensão material que, de algum modo, ecoa a suspensão do tempo evocada por suas presenças na cidade de hoje.

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 5 de 6
"Out of Context". Gravura em metal para a série "Expired Futures". Image Cortesia de Vinicius Libardoni

Geografias sentimentais, os objetos de interesse do artista podem ser entendidos como rugas no espaço-tempo. Em seu livro A natureza do espaço, o geógrafo Milton Santos chama de rugosidade aquilo que fica do passado como “forma, espaço construído, paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares”. Tal qual a geografia do corpo, com suas dobras, fendas e asperezas, as rugas do território urbano são registros da passagem do tempo naquele lugar – cicatrizes que atestam presenças ausentes: o próprio passado no presente. 

Expired Futures são os futuros que poderiam ter sido mas que nunca chegarão a sê-lo, são as possibilidades nunca vividas ou, ainda, uma profecia de futuro que não poderá jamais existir.

Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa - Imagem 6 de 6
"Deadly Repetition". Gravura em metal para a série "Expired Futures". Image Cortesia de Vinicius Libardoni

Conheça o trabalho de Vinicius Libardoni em seu Instagram e site.

Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: Estética. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

Galeria de Imagens

Ver tudoMostrar menos
Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Artista traduz em gravuras a atmosfera e nostalgia da arquitetura soviética polonesa" 18 Jun 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/982698/artista-traduz-em-gravuras-a-atmosfera-e-nostalgia-da-arquitetura-sovietica-polonesa> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.